quarta-feira, 19 de novembro de 2008

há noite com luz


o candeeiro da Vânia e da Sónia
que está no desktop do meu computador no trabalho

sábado, 25 de outubro de 2008

Mulher entre aspas, parte 1

Título original da obra: «Stile Vivo», tradução de M. Salomé Fernandes e Lucília Correia.
Edições Salesianas
Composto e impresso em Manufacturas Modesta, Porto


Pretendo partilhar um longo caminho expositivo sobre o que se entende por «estilo», ou melhor, por mulher portuguesa nos anos 60 a partir de um almanaque de capa dura cinzenta plastificada que adquiri pelo valor simbólico de 0.50 cêntimos neste mês, numa loja de antiguidades na cidade de Coimbra. Na primeira página deste livrinho surge a citação Mudai de estilo ou mudarei de lugar (D. Fr. Man. de Melo - Apólogos Dialogais II, p. 16).

Toda a obra parte do conceito de «estilo» sempre enunciado entre duas aspas para assim definir o que significa ser um exemplar de «mulher», ou, uma «mulher» exemplar. O «estilo» vai-se definindo e define várias regras de comportamento ao longo de vários espaços: na casa de Deus, em casa, com os vizinhos, com os superiores, na escola,...

Este pequeno perdido e achado livrinho poeticamente escrito na segunda pessoa de um singular feminino pode ser o catalisador de uma noite humorística feita com amigos e na companhia de um bom vinho, como o foi no meu serão de ontem.
Mas muito além de uma anedota para os nossos olhos de hoje, é acima de tudo uma maneira de treinar sensibilidades para o poder que os significados circunscritos num tempo e agilizados por uma instituição de valores específicos podem adquirir quando traduzidos numa palavra («estilo»), tão úteis no forjar de condutas, valores e imagens da identidade feminina que se define por oposição ao que não é e, portanto, que manifesta igualmente o retrato das outras identidades no confronto com as quais especifica a sua singularidade.
Uma relíquia, um tesourinho (deprimente fascizóide?), um testemunho de uma sociedade já longínqua (ou não?), um exercício de lavagem cerebral, um manual de etiqueta e da boa educação, um receituário para o bem, ou uma prova da natureza processual e construída da identidade pessoal e de género que, por ser isso mesmo, ajuda a reflectir sobre a diferença de ser mulher ou de estar (a ser) mulher numa determinada situação relacional com o outro ou outros e, numa dimensão mais macro, um esclarecimento sobre a relação porosa entre aquilo a que chamamos sociedade e o lugar que as pessoas ocupam nela, pois através deste livrinho construímos uma imagem da sociedade portuguesa da altura, feita por pessoas contemporâneas desses valores, supostamente estrangeiras na sociedade portuguesa de hoje que por sua vez constrói outras pessoas e é construida constantemente por outras...
O mais interessante é que o que é estranho para uns pode ser familiar para outros, mesmo entre aqueles que nasceram na mesma geração.

Assim, pela leitura das várias partes deste artefacto cultural muitas questões se colocam mas às quais uma ideia surge transversal a todas: o que é a verdade? O que podemos estar sendo nós na situação x, y ou z? E porque pode ser a «Cortesia Feminina» um bom momento de um serão bem humorado e propiciador de uma conversa interessante?
Para mim este achado é isso: um achado.

Parte 1: introdução
pg. 5-7

ESTILO E ALEGRIA

Eu canto a alegria. A tua alegria.
Inspira o meu canto a vida que tu constróis
na realidade de uma autenticidade pessoal.

«Estilo» é educação interior, que se realiza na
forma externa de cortesia, de domínio,
de boas maneiras, de educada e agradável cordialidade.
São muitos os que fixam os olhos em ti: a tua acção é esperança.

Não é alegria vâ, feita de coisas pobres.
Não é alegria melancólica sobre a qual
cai a triste sombra do entardecer.
Não é alegria rumorosa e oca.
Mas alegria verdadeira.
Porque tu, na grande cidade humana, pelo teu «estilo»,
não serás apenas menina educada e distinta,
serás frase de um diálogo,
serás nota de maravilhosa harmonia,
serás voz, que influenciará o mundo.


ARTE DE BEM VIVER

«ESTILO»

feito de boas maneiras, equilíbrio, educação,
cuja base
é
sinceridade, dignidade, naturalidade.

«Estilo» não é a aparência, ostentação, contrafacção,
é convicção interior.
É expressão de personalidade.
Hoje a vida é feita de relações humanas.
Guerra ao fingimento sentimental nas nossas relações.
Guerra ao comportamento pseudo-moderno,
obstinadamente anticonformista,
feito de atitudes imorais, superficiais,
incorrectas, muitas vezes triviais,
sempre egoístas.

«ESTILO» É A ARTE DE BEM VIVER:

* Não no sentido de «oportunismo»,
Sim no sentido humano e cristão de educação da liberdade interior.
* Percorrer o nosso caminho, com agilidade e desembaraço,
sem estorvar os outros caminhantes.
* Corrigir o temperamento: moderá-lo, nos impulsos mais fortes;
sem renunciar à própria personalidade, antes, mantendo-se na medida do equilíbrio, para não ferir a personalidade dos outros.
* Ter na vida certezas absolutas: ideias-luz, ideias-força, que estabeleçam relações com os «outros» de maneira equilibrada, educada, calma.
Em dominante de caridade.
* Ser uma personalidade que não se concentre demasiado no seu «eu»,
nem dele saia com infantil superficialidade.
Serena, forte e consciente da sua missão,
num desejo de melhorar o mundo.


Pequeno código de cortesia
que transcende
a vã aparência da etiqueta,
para mergulhar as suas raízes na interioridade do espírito.

POR ISSO «ESTILO» É PERSONALIDADE



quinta-feira, 16 de outubro de 2008

o bom e o mau






relativamente a....
em virtude de...
na situação em que...
é assim: (...)
enfim.........



quarta-feira, 8 de outubro de 2008

no fim do meu texto
a tão sempre despedida
para que um dia
a uma ténue luz
sinta a ferida
das poucas palavras que te escrevi
no fim...


de tantas que senti.


desenho de Kelly Murphy

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

quarta-feira, 1 de outubro de 2008




My Lady Story

Hope there's Someone

The Lake

Criplle and the strarfich

Antony and the Johnsons



terça-feira, 30 de setembro de 2008




a família de Olga


Olga e Lisbeth



Olga










Lisbeth





algumas ilustrações do livro Génealogie d'une Sorcière,

Benjamin Lacombe e Sébastien Perez

sábado, 27 de setembro de 2008

black garden

desenho de Camille Rose Garcia

miaus

o meu gato Mefistófeles e a minha gata Nina


sexta-feira, 26 de setembro de 2008

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Lembra-te




Lembra-te
Que todos os momentos
Que nos coroaram
Todas as estradas
Radiosas que abrimos
Irão achando sem fim
Seu ansioso lugar
Seu botão de florir
O horizonte
E que dessa procura
Extenuante e precisa
Não teremos sinal
Senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos.




Mário Cesariny

Pena Capital


terça-feira, 23 de setembro de 2008

perfeição

Jennie Cunningham




Esta noite a tua boca é a mais bela rosa do universo
Bebo para afogar este pesadelo
Que o vinho seja rubro como as maçãs do teu rosto
E os meus versos tão leves como os anéis dos teus cabelos.



Omar Khayam (poeta persa do século XI d.c)

O Vinho e as Rosas, Antologia de poemas sobre a embriaguez, 2006

Assírio & Alvim


sábado, 20 de setembro de 2008

mergulhar

fotografia de Bogdan Zwir



em papel vegetal,
decalcar o teu respirar no mundo
que vês e tacteias.
transportar o condutor que és
para os outros que se acercam de ti.
a marca sem rasto
que fica.
etnografar os sabores dos caminhos palmilhados.




sexta-feira, 19 de setembro de 2008

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

domingo, 14 de setembro de 2008

já longe



o mar




e a aridez




do descanso prometido.


movimento










sábado, 13 de setembro de 2008

cat's home

fotografia de Bogdan Zwir



sexta-feira, 12 de setembro de 2008

ainda o deserto e Arcade Fire





Sergio Leone, Once Upon a Time in the West e Arcade Fire,

My body is a cage do álbum Neon Bible, 2007





My body is a cage that keeps me
From dancing with the one I love
But my mind holds the key

My body is a cage that keeps me
From dancing with the one I love
But my mind holds the key

I'm standing on a stage
Of fear and self-doubt
It's a hollow play
But they'll clap anyway

My body is a cage that keeps me
From dancing with the one I love
But my mind holds the key

You're standing next to me
My mind holds the key

I'm living in an age
That calls darkness light
Though my language is dead
Still the shapes fill my head

I'm living in an age
Whose name I don't know
Though the fear keeps me moving
Still my heart beats so slow

My body is a cage that keeps me
From dancing with the one I love
But my mind holds the key

You're standing next to me
My mind holds the key
My body is a

My body is a cage
We take what we're given
Just because you've forgotten
That don't mean you're forgiven

I'm living in an age
That screams my name at night
But when I get to the doorway
There's no one in sight

My body is a cage that keeps me
From dancing with the one I love
But my mind holds the key

You're standing next to me
My mind holds the key

Set my spirit free
Set my spirit free
Set my body free


terça-feira, 9 de setembro de 2008




Ao longe, olho e imagino o aroma das montanhas
fortalezas desta cidade.
Apetecia-me o calor visceral da praia
E nunca sair da água transparente cheia de peixes de várias cores,
envelhecer lá.
Nunca vou parar de amar as pessoas que amo.
A felicidade é o que se sente por segundos.
Só e muito.

Estou de ressaca de todas as contrariedades e desconfortos
e imobilizo todos os pensamentos e movimentos.
Reencontro com o outro lado,
que respira finalmente, devagarinho.
Não tenhas medo.
Podes sair.


sábado, 6 de setembro de 2008

o deserto, os camaleões, o mar, on the road e Radiohead. In Rainbows




Weird Fishes/Arpeggi


In the deepest ocean
The bottom of the sea
Your eyes
They turn me
Why should I stay here?
Why should I stay?


I'd be crazy not to follow
Follow where you lead
Your eyes
They turn me


Turn me on to phantoms
I follow to the edge of the earth
And fall off
Everybody leaves
If they get the chance
And this is my chance


I get eaten by the worms
Weird fishes
Get picked over by the worms
Weird fishes
Weird fishes
Weird fishes


I'll hit the bottom
Hit the bottom and escape
Escape

I'll hit the bottom
Hit the bottom and escape

aquele querido mês de Agosto

radioactividade felina

sandyskoglund-radioactivecats, 1980


quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Certos Outros Sinais



Navegamos por águas longe e pelo nevoeiro.
A bordo do nosso navio fantasma SOMOS O QUE SOMOS

e ao nosso redor apenas o chapinhar das águas
misteriosamente calmas
de encontro ao casco nos impressiona e informa.
Acreditamos que jamais o homem será escravo

enquanto houver um só Poeta, isolado e ignorado que seja,
a reclamar a si mesmo a decisão ou indecisão magníficas.

O homem não é um «animal». Esta catalogação é um erro da Biologia.

Agrada-me profundamente saber que eu estou num ponto do Universo

que necessita ser esticado para o lado de fora,
quero dizer: para a minha frente.
Se rebentar é a minha mais profunda aspiração que foi satisfeita!

O Futuro é tão antigo como o Passado.
E ao caminharmos para o Futuro é o Passado que conquistamos!

[…]

António Maria Lisboa (1928-1953)

Poesia



para o meu avô Marcolino

(avô gordo, estou muito feliz)





domingo, 31 de agosto de 2008

palavras sentidas, escritas e palmilhadas



cena inicial do filme Central do Brasil, 1998, de Walter Salles





para uma contextualização do filme e uma interpretação a ler ver artigo em
http://www.facasper.com.br/cip/communicare/edicao_7_1/pdf/07.pdf

a ver.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

sexta-feira, 18 de julho de 2008

menina, menina



Ao objecto criado por nós (pessoas educadas e criadas por valores ocidentais) seja ele uma fotografia, um texto, uma escultura, um prato de culinária, um cachecol ou uma pintura, vem sempre associado um nome. Não um nome qualquer, mas o nome de quem o concebeu e lhe deu forma material. Sem a autoria, o objecto não será enquadrado na categoria de arte, pois claro. Adoptará outras categorias, sempre questionáveis.

A autoria, enraizada naquilo a que chamamos individualismo e antropocentrismo, vem justamente valorizar o objecto porque lhe associa um nome, não o da peça, mas sim o do artista, o produtor da obra – o que se traduz num enaltecimento do artista, no fundo, sobrepondo-se à obra pela sua assinatura ironicamente por debaixo a esta.
Ora, supostamente, o objecto fica dotado de um valor que se lhe acresce enquanto produto, e com isso fica a pertencer a alguém (mesmo que não queira nem nunca quisesse) e que vai para lá daquilo que o objecto faz, ou seja, daquilo que as pessoas fazem com ele e como o apreendem e o integram nas suas vidas, quer dizer, de todo o processo que envolve e dá protagonismo ao próprio objecto. A reivindicação dos direitos de autor é exemplo disso.
A identidade do objecto não lhe é atribuída pela sua vida, mas pela vida, percurso, características peculiares e filosofias do artista.

Pois bem… E se a obra estiver muito ao lado da pessoa do artista que a concebeu?

Há fotografias que ficam lembradas para a vida; há sabores indescritíveis; há palavras anónimas que se leram e não se esqueceram nunca; há memórias de experiências de subjectividade. Há lugares feitos por nós a partir daquilo que outros fizeram.
Há obras que tocam a elegância que os seus autores gostariam de conceber, um dia, para si próprios.





sexta-feira, 11 de julho de 2008

transparência



fotografia de Marília Campos
bath




No meu rosto, as marcas da felicidade que vivi
no passado.
Nas minhas mãos, tudo o que senti e afaguei.
Nos meus olhos,
aquele que ainda não vi.
Nos ouvidos, a viagem para dentro de mim.
Nos meus pés, a vontade de fugir a dançar.
Na minha pele, os espaços que habito.
Na minha boca, a palavra certa e directa quase, quase a sair,
De certo
deselegante, crua e solitária
para os que andam encurvados, a monologuear
por aí.

Nos meus cabelos, o cansaço transparente do meu corpo.






quinta-feira, 10 de julho de 2008

Hat Women

pintura de Outlaw Jesus





pinturas de Ken Dougherty





terça-feira, 8 de julho de 2008

the eye

Esher

Viajando da margem para o centro
Tornei visível
O bom e o mau
Que está alojado em mim.
O cansaço deste lado adormece
Com o cair da madrugada
E regurgita toxinas de que não preciso.





sexta-feira, 4 de julho de 2008

balancés


fotografia de Marília Campos


Costumava ir para os balancés nas noites muito quentes de verão, com o meu irmão e a minha mãe. Ficavam no jardim, no lado esquerdo. A minha avó ia lá ter connosco.
Lembro-me de ter estado à altura destes cavalos de madeira, de rodar e rodar, e de sentir o vento massajar-me as bochechas. O coração batia, batia, batia.
Havia alguns cavalos com a madeira já degradada, estavam gastos de tanto correr, de tanto transportar, em círculo, crianças cheias de vida.
Mas os meus cavalos andavam sem par, eram quatro apenas, em cruz.
E a areia entrava para dentro das sandálias quando corria para os baloiços.





quinta-feira, 3 de julho de 2008

domingo, 29 de junho de 2008

amor,



imagem de Yoshitaka Amano

vou continuar a pensar-te
assim
em tons de sombra.
e quando fizeres em presença
a magia da felicidade
os meus olhos ficarão ainda maiores
para te ver melhor
perto de mim,
Sim.




quinta-feira, 19 de junho de 2008

O meu palácio


Pedra a pedra, construí um palácio para o meu primeiro amor. Pus um tapete vermelho e esperei-o como um espelho que reflecte a preto e branco, amei-o
tanto sem cor. O príncipe chegou e quando pressentiu que eu talvez fosse pedra fugiu.
Frase a frase construí um palácio para o meu segundo amor entre as rimas
de um soneto um retrato a branco e preto que nos julgava mortais, amei-o mais
que a dor. O príncipe chegou e quando pressentiu que eu talvez fosse um verso
fugiu.
No meu corpo vou construindo um palácio como quem vê o sol pôr, feito apenas dos meus passos, dos desejos e abraços que nos fazem não ter fim,
amo-te sim amor.
O príncipe chegou e quando pressentiu que eu era uma mulher sorriu.



Jorge Palma


terça-feira, 27 de maio de 2008

sábado, 10 de maio de 2008













ilustrações de Benjamin Lacombe no livro L'Enfant Silence




sexta-feira, 9 de maio de 2008

sem envelope

pintura de Plamen Temelkov, Esperanza


pelos segundos que medeiam
pelo tecido que diz
pela gravata que não se põe
pelo calor que faz transpirar
pela luz que aclara
pela falta de jeito
pelo cheiro da manhã doce
pelo isqueiro que desapareceu
pelo medo que bloqueia
pela canção que seduz
pelo exílio
pelo respirar que embacia
pelo amor que preocupa
pelos amigos saudosos
pela falta
pelas palavras que assustam
pela oportunidade que se ausenta
pelo tempo que passa,
escrevo no fim do dia
e envio
em forma de correio azul,
pela urgência com o que o dizer coabita.



quarta-feira, 7 de maio de 2008

instante

Yoshitaka Amano



aquele instante,
na intenção de debruçar,
equilíbrio o o o o o o
no
balbuciar de pensamentos inócuos
mas incisivos
no intuito de fazer presença
com significado
daquilo que lá dentro vai.

naquele instante,
a acrobata cai,
vazia daquilo que criou,
sombra
daquilo que sentiu,
metáfora daquilo que vestiu.

fica
ali ainda
a pensar no que pensou,
as palavras na boca que não verbalizou,
voltas e mais voltas,
já sem nada
porque longe do instante.


as mãos ficam livres,
e
prontas, de novo,
a ser presença.




quinta-feira, 1 de maio de 2008


de dentro deste cansaço vem
um travo amargo de uma dor
de costas que em muito se deve à insistência de criar coisas,
de dar à luz novas coisas.
de entender.
há pormenores que ocupam o espaço de um gigante,
porque são aquelas eurekas só agora descobertas por nós.
e isso é que importa.
o bater na porta
e entrar.



quinta-feira, 24 de abril de 2008