segunda-feira, 17 de setembro de 2007

em danças


fotografia: (?)



Quando se anda de saltos altos, as vistas lá de cima parecem ter a segurança de uma rede cá em baixo. O comprometimento com as coisas que se vão vendo e calcando parece menor, porque o andar assenta num bamboleio frágil feminino, sedutor mas igualmente fugidio. A procura constante de um equilíbrio resulta num álibi perfeito.

Quando se vestem umas sapatilhas de ponta, isto para quem dança ou dançou ballet, a realidade eleva-se e transforma-se em sonho, o desejo de poder tocar levemente o chão apenas com uns centímetros de mim na iminência de um voo, acontece. Neste caso, em sonho não há lugar para justificações. A ilusão de liberdade anula qualquer vínculo ao solo.

Na ausência de saltos, ou pontas, (e apesar de a postura ser ainda a do ballet, rígida e tensa), resta-nos a planta do pé irremediavelmente estendida na horizontalidade do chão. Aí, não há fuga possível a um comprometimento com aquilo que nos permite um equilíbrio vertical real, sentido desde o calcanhar ao dedo grande do pé. O estar mais próximo da terra significa a possibilidade de estar mais próximo do nosso corpo e, consequentemente do que se passa dentro da nossa cabeça, lá em cima.

O que há de comum entre as três hipóteses? O latejar de veias nas mesmas pernas. (?)