sexta-feira, 29 de junho de 2007

Lakmé





Viens, Mallika, les lianes en fleurs
Jettent déjà leur ombre
Sur le ruisseau sacré qui coule, calme et sombre,
Eveillé par le chant des oiseaux tapageurs!

Sous le dôme épais où le blanc jasmin
A la rose s'assemble
Sur la rive en fleurs riant au matin
Doucement glissons
De son flot charmant
Suivons le courant fuyant
Dans l'onde frémissante
D'une main nonchalante
Viens, gagnons le bord,
Où la source dort et
L'oiseau, l'oiseau chante.

Sous le dôme épais ou le blanc jasmin,
Ah! descendons
Ensemble!


Lakmé
Léo Delibes,
in L'Ópera Imaginaire

monólogos


ocas e ofendendo com uma mudez
assustadora,
as cabeças nocturnas buscam os sons fáceis e banais.
completamente embriagadas
terminam os seus pensamentos com um
ponto de interrogação,
prontas a desafiar a 5 coroas
um qualquer olhar "distraído".
por instantes,
uma semente de cumplicidade
estéril
é lançada conscientemente
no vazio da noite
no vazio da cabeça nocturna que,
de repente se afoga
em estilhaços de esperança:
corda colorida
desfeita pelo tempo, uma ilusão.
que crueldade!
qual violação consentida?!, ignorante...
risos.
os olhos de pedra sentem, agora.
uma alma vagabunda emprestou a sua graça
por instantes, apenas.
À cabeça oca e muda
chegam veias de sangue e monossílabos
incompreensíveis,
verdadeiras ilhas num mar de fluídos efervescentes.
a pseudo-cabeça cresce,
lentamente num jogo de olhares.
pobre criatura!
vá, rebenta! fragmenta-te em mil pedaços de areia,
devolve-me os estilhaços de esperança meus
que permiti que te drogassem.
mais próximos e terrivelmente mais distantes:
eu e o orgão genital ambulante
com uma perna de pau e sem braços,
sorri.
coxeia para me alcançar.
mas desconhece o seu andar...
triste figura! (agradeces a venda que coloquei no olhar de que careces)
troca de palavras, um toque superficial.
apenas vês uma fechadura. desconheces o seu código,
não sabes com que construir a chave,
a tal chave,
ofício inexistente na estupidez dos teus olhos.
sempre o soube, desde o primeiro olhar furtivo,
mas consenti que o soubesses somente por ti
pêlo púbico raquítico e ressequido
pelo tempo da triste vida
que te ignora e
anula.
não fugi. apenas indiquei as estradas da tua própria solidão
que percorres a pé, cego.
contudo não conseguiste vê-las.
permaneces sem olhar, sem um olhar,
com dois olhos pendurados
numa cabeça
onde orgãos genitais repousam
à espera do nada.
o orgasmo, fácil e barato,
és tu, sozinho.
o desespero não está em ti
(não encontra lugar na tua mente)
está sim
naquele que te observa - toda a noite -
e que brinca com os teus olhos
com o teu sexo
paralítico
numa cadeira de rodas quadradas.

o primeiro e sempre O poema

uma mulher,
prisão ou fascínio...
ou nada, talvez.

somente ela, por si
de tal elegância
que pasma o vazio
longínquo dentro de nós
e o preenche.

exílio na boca dela
eternamente
aquando da visita de tulipas roxas
e de um raio de sol.

depois
a fuga
para nos exilarmos
no nosso próprio interior
na procura incessante
do nosso próprio fascínio

egoisticamente.

em ambos
permanecem migalhas
de sentimentos anónimos.

eternamente
carentes e sós.




imagem: Jean-Sebastien Rossbach, mondes san noms