quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

the eye

closeup of vexed, pintura de Sas


Cada vez mais tenho dificuldade em perceber se as pessoas com quem falo e trato de questões de trabalho, indivíduos sem nenhum vínculo afectivo e de cumplicidade comigo, sabem o que é o exercício de se imaginarem de fora.
Frequentemente, sem aparente motivo, surge no meu ecrã uma imagem de mim, naquele preciso momento. Estou a olhar-me de fora, a ver-me nas minhas actividades do dia a dia, mas sempre de fora, imaginando como é que os outros me veriam, ou melhor, a desenhar a minha presença, o meu fenómeno, numa tentativa de o sentir, perspectivar-me numa distância impossivelmente alcançável, e pensar sobre mim. (no meio do outro)
Este processo não se prende com a ideia de imagem perfeita para os olhares alheios, não é por isso que acontece. Acontece de forma espontânea, quase um delírio, uma viagem para o lado de lá. A expressão do olhar e do corpo acabam por desvendar este momento quase de transe. Fico voltada para dentro ao voltar-me para fora.
Mas há pessoas que nunca se esboçaram numa caricatura. Desconhecem a sua sombra.
Há criaturas que nunca dilatam os seus olhos por uma questão de segundos no meio da sua vidinha medíocre de ratos. Hão-de ficar incapacitados por uma corcunda patológica de tanto olharem para os umbigos, secos e desnutridos.