quarta-feira, 11 de julho de 2007

how to disappear completely


That there
That's not me
I go
Where I please
I walk through walls
I float down the Liffey
I'm not here
This isn't happening
I'm not here
I'm not here

In a little while
I'll be gone
The moment's already passed
Yeah it's gone
And I'm not here
This isn't happening
I'm not here
I'm not here

Strobe lights and blown speakers
Fireworks and hurricanes
I'm not here
This isn't happening
I'm not here
I'm not here


radiohead
Kid A
Pinkpop 2001, ao vivo

corações de cor e sabor

Os corações que souberam dar entrada na minha vida eram de várias cores e tinham diferentes paladares.
Todos eram diferentes entre si.
E eu também para cada qual.

O primeiro de todos lembra-me a cor outonal das folhas das árvores grandes, assim tipo amarelo acastanhado.
Sabia a sopa de feijão quentinha salteada de coentros.
Este coração tornou-se branco e cresce dentro de mim até hoje.

O outro coração era revestido a verde musgo e cheirava a terra molhada pela chuva.
Tinha o sabor do pão com manteiga à hora do lanche e o aroma da cevada.
Este coração tornou-se violeta e está guardado dentro de mim, inexplicavelmente.

O seguinte coração era azul da cor do céu e do mar.
Tinha o sabor de um iogurte de pedaços de maçã golden.
Vieram tempestades violentas, e o céu ficou carregado de nuvens e o mar com ondas agitadas e gigantes.
Agora está cá dentro, cinzento ainda.

O último coração de que falo parecia ter a cor bordeaux, a cor do vinho de uvas de castas do sul.
Saboreá-lo era como uma entrada de pão caseiro com fatias de tomate e orégãos, regado de azeite.
Mas este coração ficou roxo de tanto apertar dentro do peito. Não tinha espaço para bater.
Agora está cá dentro e tem o sabor de ameixas de verão.

E o coração vermelho?
Seria cheio de sumo, suculento?
Não sei a que saberia…
Talvez o devorasse em 3 segundos ou então, antevendo o seu desaparecimento, decidiria saborear o néctar, devagarinho, dos tecidos vivos que estavam dentro dele.

Acho que teria o paladar de tâmaras enroladas em fatias de bacon e o arrepio de um movimento de flamenco.

Ou então a frescura de um gelado de amoras silvestres.
Não duraria muito tempo nesta altura de calor.




imagem: meim

por vezes...




por vezes sou assolada pela ausência do poder de desiludir.



tenho por hábito deixar-me ser sensível ao que de inexplicável o encontro com o outro, ser desejado, provoca em mim.

com isso, construo uma ponte de entendimento entre os dois através daquilo que em mim e de mim me é possível tornar transparente, num fluxo natural de partilha.



mas existe um senão.



acontece quando o outro, ser desejado, se descompromete com essa minha consciente tranparência e age de acordo com o que vai exigindo de si próprio para si próprio. as expectativas mútuas, que cada um esboça de cada qual, vão-se diluindo porque ambos não seguem o mesmo caminho.



por vezes não consigo desiludir.

sou desiludida.





fotografia de Marília Campos,
bath