quarta-feira, 11 de julho de 2007

corações de cor e sabor

Os corações que souberam dar entrada na minha vida eram de várias cores e tinham diferentes paladares.
Todos eram diferentes entre si.
E eu também para cada qual.

O primeiro de todos lembra-me a cor outonal das folhas das árvores grandes, assim tipo amarelo acastanhado.
Sabia a sopa de feijão quentinha salteada de coentros.
Este coração tornou-se branco e cresce dentro de mim até hoje.

O outro coração era revestido a verde musgo e cheirava a terra molhada pela chuva.
Tinha o sabor do pão com manteiga à hora do lanche e o aroma da cevada.
Este coração tornou-se violeta e está guardado dentro de mim, inexplicavelmente.

O seguinte coração era azul da cor do céu e do mar.
Tinha o sabor de um iogurte de pedaços de maçã golden.
Vieram tempestades violentas, e o céu ficou carregado de nuvens e o mar com ondas agitadas e gigantes.
Agora está cá dentro, cinzento ainda.

O último coração de que falo parecia ter a cor bordeaux, a cor do vinho de uvas de castas do sul.
Saboreá-lo era como uma entrada de pão caseiro com fatias de tomate e orégãos, regado de azeite.
Mas este coração ficou roxo de tanto apertar dentro do peito. Não tinha espaço para bater.
Agora está cá dentro e tem o sabor de ameixas de verão.

E o coração vermelho?
Seria cheio de sumo, suculento?
Não sei a que saberia…
Talvez o devorasse em 3 segundos ou então, antevendo o seu desaparecimento, decidiria saborear o néctar, devagarinho, dos tecidos vivos que estavam dentro dele.

Acho que teria o paladar de tâmaras enroladas em fatias de bacon e o arrepio de um movimento de flamenco.

Ou então a frescura de um gelado de amoras silvestres.
Não duraria muito tempo nesta altura de calor.




imagem: meim

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