sexta-feira, 18 de julho de 2008

menina, menina



Ao objecto criado por nós (pessoas educadas e criadas por valores ocidentais) seja ele uma fotografia, um texto, uma escultura, um prato de culinária, um cachecol ou uma pintura, vem sempre associado um nome. Não um nome qualquer, mas o nome de quem o concebeu e lhe deu forma material. Sem a autoria, o objecto não será enquadrado na categoria de arte, pois claro. Adoptará outras categorias, sempre questionáveis.

A autoria, enraizada naquilo a que chamamos individualismo e antropocentrismo, vem justamente valorizar o objecto porque lhe associa um nome, não o da peça, mas sim o do artista, o produtor da obra – o que se traduz num enaltecimento do artista, no fundo, sobrepondo-se à obra pela sua assinatura ironicamente por debaixo a esta.
Ora, supostamente, o objecto fica dotado de um valor que se lhe acresce enquanto produto, e com isso fica a pertencer a alguém (mesmo que não queira nem nunca quisesse) e que vai para lá daquilo que o objecto faz, ou seja, daquilo que as pessoas fazem com ele e como o apreendem e o integram nas suas vidas, quer dizer, de todo o processo que envolve e dá protagonismo ao próprio objecto. A reivindicação dos direitos de autor é exemplo disso.
A identidade do objecto não lhe é atribuída pela sua vida, mas pela vida, percurso, características peculiares e filosofias do artista.

Pois bem… E se a obra estiver muito ao lado da pessoa do artista que a concebeu?

Há fotografias que ficam lembradas para a vida; há sabores indescritíveis; há palavras anónimas que se leram e não se esqueceram nunca; há memórias de experiências de subjectividade. Há lugares feitos por nós a partir daquilo que outros fizeram.
Há obras que tocam a elegância que os seus autores gostariam de conceber, um dia, para si próprios.