terça-feira, 18 de setembro de 2007

A Oralidade e a Cultura Popular



Conto recolhido em Castelo Branco


Candeeiros de Cinquenta Luzes, Mesas de Engonsos e Garfos de Cinco Pontas

«Em tempos distantes, havia um rei que tinha uma filha muito linda. Entre os muitos criados que a serviam, um gostava muito dela, e ela também gostava dele, mas, pelas suas situações, não podiam casar-se.
O criado, quando lhe diziam que era tonto em pensar casar com filha do rei, respondia:
- Ai casa tão rica a de meus pais: candeeiros de cinquenta luzes, mesas de engonsos e garfos de cinco pontas!
Tantas vezes estas palavras foram repetidas aos ouvidos do rei que acabou por admitir o casamento da filha com o criado.
Ficou muito admirado de encontrar uma casa muito pobre, e perguntou onde estavam os candeeiros de cinquenta luzes, mesas de engonsos e garfos de cinco pontas.
- Espere que venha minha mãe, - respondeu o criado.
Momentos depois aparece uma velha que trazia no regaço muitas pinhas que pôs na lareira e a que deitou o fogo. Acesas, as pinhas com as suas lindas chamas, o rapaz disse muito contente:
- Aí estão os candeeiros de cinquenta luzes.
Como eram horas do jantar, o rei perguntou pela mesa de engonsos. O criado disse:
- A mesa de engonsos são os joelhos, onde pomos os pratos para comermos.
Admirado por não ver os garfos, o rei perguntou também por eles.
-Os garfos de cinco pontas são os cinco dedos, - respondeu o noivo.
Mas como a filha do rei gostava muito do criado, e vista a esperteza dele, o rei consentiu o casamento.»



In Contos e Lendas da Beira
Recolhas de Jaime Lopes Dias

Edições Alma azul
2002