domingo, 6 de dezembro de 2009

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Felino




o meu gato Mefistófeles no ataque

domingo, 8 de novembro de 2009

nada



Afagos nocturnos, ao ouvido,
De mansinho,
Mais tarde,
Vêm lacrimejar nos meus olhos apertos de outrora
Que nada têm a ver com aquilo, isto.
Oco, desperdício, tanto para te dar
E nada…..
Não me resigno
Não reivindico.
Nem castigo.
Só choro a dor que habita em mim.
Espero-te.
Espero-me.
E sofro, longe de uma mostra para leilão.





sábado, 31 de outubro de 2009

Uma espécie de perda


Usámos a dois: estações do ano, livros e uma música.

As chaves, as taças de chá, o cesto do pão, lençóis de linho e uma

cama.

Um enxoval de palavras, de gestos, trazidos, utilizados,

gastos.

Cumprimos o regulamento de um prédio. Dissemos. Fizemos.

E estendemos sempre a mão.

Apaixonei-me por Invernos, por um septeto vienense e por

Verões.

Por mapas, por um ninho de montanha, uma praia e uma

cama.

Ritualizei datas, declarei promessas irrevogáveis, idolatrei o indefinido

e senti devoção perante um nada,

(-o jornal dobrado, a cinza fria, o papel com um apontamento)

sem temores religiosos, pois a igreja era esta cama.

De olhar o mar nasceu a minha pintura inesgotável.

Da varanda podia saudar os povos, meus vizinhos.

Ao fogo da lareira, em segurança, o meu cabelo tinha a sua cor

mais intensa.

A campainha da porta era o alarme da minha alegria.


Não te perdi a ti,

perdi o mundo.



Ingeborg Bachmann,

O Tempo Aprazado

domingo, 25 de outubro de 2009

Shift




Baby, I've got silver and I've got gold
But when push comes to shove, this is getting old
I wouldn't have it any other way
No, I wouldn't have it any other way
And when you call I'll be there
There...
I wouldn't have it any other way


Grizzly Bear
Álbum:
Paris Acoustic Sessions

Two Weeks




Save up all the days
A routine malaise
Just like yesterday
I told you I would stay

Would you always
Maybe sometimes
Make it easy
Take your time

Think of all the ways
Momentary phase
Just like yesterday
I told you I would stay

Every time you try
Quarter half the mile
Just like yesterday
I told you I would stay

Would you always
Maybe sometimes
Make it easy
Take your time


Grizzly Bear

Álbum:Veckatimest

domingo, 18 de outubro de 2009

All flowers in time



My eyes are
A baptism
Oh I am filth
And sing her
To my face
Oh phantom elusive thing oh,

All flowers in time bend towards the sun
I know you say that there's no-one for you
But here is one,
All flowers in time bend towards the sun
I know you say that there's no-one for you
But here is one, here is one... here is one

Aah, ooh...
One that can never be known
Either all drunk with the world at her feet
Or sober with no place to go

All flowers in time bend towards the sun
I know you say that there's no-one for you
But here is one,
All flowers in time bend towards the sun
I know you say that there's no-one for you
But here is one, here is one... here is one

Aah, ooh...
We could go
We can travel round
Fading farther from me
With your face in my window call

When will you weep for me
Sweet willow

It's ok to be angry
But not to hurt me
Your happiness, yes, yes, yes
Darling, darling,
Oooh...

All flowers in time bend towards the sun
I know you say that there's no-one for you
But here is one,
All flowers in time bend towards the sun
I know you say that there's no-one for you
But here is one, here is one... here is one


letra de Jeff Buckley, com Elizabeth Fraser (Cocteau Twins)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

enfim

(eu)


Nestes tempos

de mudança de estação

ficou um sentido de térmito,

inquietante apaziguador.

O descanso chegou, enfim,

encostado à seiva daquela árvore.

Dela me quero alimentar para que,

num fim (algures daqui em frente),

sentir de novo a paz aterrando

muito de mansinho

neste meu corpo.

(a 21 de setembro)

terça-feira, 22 de setembro de 2009




Here we are
Stuck by this river,
You and I
Underneath a sky that's ever falling down, down, down
Ever falling down.

Through the day
As if on an ocean
Waiting here,
Always failing to remember why we came, came, came:
I wonder why we came.

You talk to me
as if from a distance
And I reply
With impressions chosen from another time, time, time,
From another time.

domingo, 23 de agosto de 2009

sábado, 4 de julho de 2009

(...)

Elisabeth




Quando se nos aperta o peito e tudo o que ele contém,

Os meus olhos dilatados olham, como pela primeira vez, para as minhas mãos.

E para ti, amor,

Tão perto, aqui, de um abraçar meu,

De encontro ao teu peito, o qual toco às cegas,

Com estas mãos que te constroem outra vez e que,

Por vezes, se despegam de mim e me fazem chorar.

Imaculada lágrima numa sala já vivida de medos e cuidados a ter,

Lágrima que retenho com estas mãos que, como a iniciar os primeiros passos da vida,

Precisam de ti para eu me olhar, de novo.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Dance With Me




Excerto do filme Band a part, Godard

sincronizado com Nouvelle Vague



segunda-feira, 8 de junho de 2009





A strange kind of love
A strange kind of feeling
Swims through your eyes
And like the doors
To a wide vast dominion
They open to your prize

This is no terror ground
Or place for the rage
No broken hearts
White wash lies
Just a taste for the truth
Perfect taste choice and meaning
A look into your eyes

Blind to the gemstone alone
A smile from a frown circles round
Should he stay or should he go
Let him shout a rage so strong
A rage that knows no right or wrong
And take a little piece of you

There is no middle ground
Or that's how it seems
For us to walk or to take
Instead we tumble down
Either side left or right
To love or to hate




Peter Murphy

segunda-feira, 1 de junho de 2009

a eterna acrobata

Picasso




A reposição de afectos pelo fazer de empadinhas e tartezinhas de maçã para oferecer.

Solidão e ausências de quem se ama polvilhadas de pimenta e canela.

A pessoa a continuar sendo pessoa.




sábado, 16 de maio de 2009

until the closest love landscape

pintura de Outlaw Jesus, poppies



Por de dentro do que é palpável

sentem-se os limites do que é finito

e que tem por regra acabar.

Só uma cama, vermelha de papoilas,

é que é eterna.

Até ao acordar.





sexta-feira, 1 de maio de 2009

O Perto, o Longe



Não há definições minuciosas, quando aproximamos
o olhar daquilo que conhecemos
surge o espanto,
por vezes assustamo-nos;
é no pormenor
daquilo que é familiar que surge o perigo,
e um certo
desencanto.
Por vezes é
melhor não olharmos tempo de mais para o que amamos,
alguém disse.

Dá atenção ao inimigo para conseguires
amar,
não analises o que amas para que nenhum erro
se infiltre no encanto.
Se fiz isto, se o faço?



Gonçalo M. Tavares
1


imagem de
Yoshitaka Amano




sábado, 11 de abril de 2009

fuga



Às vezes dou por mim a pensar no disparate que existe na necessidade de alguém seduzir e ser seduzido por outro alguém. E é disparate quando, já digeridas as primeiras impressões (nas quais nem sempre confiamos…) e guardadas na gaveta do “deixa lá ver como é”, se continua num registo de sedução-conquista, e quando correspondida, mais perigosa se torna.

E bem pode haver um esforço para confiar naquilo que não se quer (sem saber ao certo o que afinal se quer), particularmente bem delineado à frente dos olhos, mas que mesmo assim se continua a deitar achas para a fogueira.

As dinâmicas da sedução despoletam motivações que parecem contraditórias: angústia e desejo vem se a conquista do lado de lá abranda no momento em que do lado de cá cuidamos de dar mais, pleno frenesim pupulante se a conquista anda em paralelo uníssono, sufoco quando a nossa voz abranda e a outra ocupa todo o seu tempo para tornar visível a sua disponibilidade para nos querer, bem-estar sadicamente gozado quando não respondemos deliberadamente a uma investida do outro lado de lá em nós, um álibi socialmente aceite e pessoalmente merecido para descansarmos da rotina chata e cansativa, solidão quando paramos para escrever sobre isto.

Solidão. Por ela se perde muito tempo.



sexta-feira, 10 de abril de 2009

bulldog boxeur Toninho e o gang dos Amaldiçoados mas Pouco, no ringue da cesta de vime


























Escusado será dizer que o gang dos Amaldiçoados Mas Pouco venceu o cansado mas lutador, até ao fim, bulldog boxeur Toninho.

um beijinho para os meus gatinhos, onde quer que estejam, pelo mundo.

domingo, 29 de março de 2009

quinta-feira, 26 de março de 2009

nuances

pintura de Rabi Khan



- Dissolve o cansaço na paisagem de uma mulher desenhada, e bebe. Bj

- Sinto-te. Bj


sexta-feira, 20 de março de 2009

ar

Paira por cima das copas um vento vindo
das areias quentes do outro lado do mundo.
E diz baixinho que abraça, suaviza a pele seca do frio das estações passadas
e que fica.
É doce que nem um kiwi maduro de tempo
e sumarento como um pedaço fibroso de manga.
A minha cadeira está no outro lado da estrada.
Não me sento. Encosto-me, por instantes.


terça-feira, 10 de março de 2009

ANIMAL



na ausência de palavras, os actos.


assinem, por favor, a petição:

http://guillermohabacucvargas.blogspot.com/



domingo, 8 de março de 2009

III. três


Anos e anos passaram na ausência:

Alimentar-se pelo pensamento fechado em alguém e… ter medo,

muito medo de… beijar.

Naturalmente e para não se arrepender de nada fazer,

lhe disse na despedida, já longe, Gostei de ti.

Afinal não foi embora, ficou. Hum… fugir…. bem, para lado algum.

Só lhe restou enfrentar.

E não estava sozinha na sua curiosidade. Que bom…

Maravilhoso momento mágico.

Pela noite sonhava que a primeira paixão a afagava e

murmurava palavras doces ao ouvido. Estranho, pensou já acordada.

Conversa e conversa… ir para o outro lado, com cautela, sentindo o caminho.

Mas,

sem culpas,

desceu à terra com pés de bailarina

e teve a real e infeliz (feliz) sensação de que, afinal,

nada tinha passado de um equívoco engendrado pela Esperança

que guardava em si, discreta… sempre, sempre… Sempre.

No fim, eclipsou-se a lua na ausência de gatos de olhares intensos e profundos, densos, os certos.

Pensou, Ups! merda, ainda bem que o beijo não aconteceu, mas gostei de ti…

Agora,

olha para si calmamente e vê as fibras negras de algodão doce

pousadas na cadeira do quarto, desengonçadas e molhadas da chuva,

tecidas por si com as mãos de fada que retirou no outro dia da gaveta,

sem ter dado conta de que as usava.






quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

II. dois



Ainda bem que há sol.

Agora é tomar banho e olhar para o cheiro

Já primaveril

E continuar.

No nicho de corujas não faltam lamparinas

Iluminadas a azeite

E na noite branca brinda com as últimas pessoas,

Cada vez menos, que a faziam continuar a dar um coração à vida.

O bolo de cenoura já está no corredor

À espera de ir, fatiado, para o banco de jardim,

Debaixo daquela árvore.





domingo, 25 de janeiro de 2009

I. um


Suponho que a sua vida não fosse…

Suposições.

Deixar de fumar para ver se o pensamento se emancipava,

sufocada, muda,

de voz plana, cansada. A pensar.

Merdices.

Tudo o resto ia na mesma:

chovia sempre que lhe apetecia espairecer,

o vento soprava quando ia pôr o lixo,

e o sol abria nas vezes em que não saía.

Já podia sentir as horas

separadas dos segundos.

Maravilhoso.

Mas uma coisa é certa: o trabalho não faz falta nenhuma.

A sua presença é útil só para fazer adiar problemas,

é o melhor álibi para qualquer coisa.

É a melhor maneira de evitar

sentar o rabo na cadeira e sentir os tendões a doer.

Entre a mascarilha e a máscara,

atrevida e escondida,

via os golpes de esperteza saloia de alguns

e a fuga dos mais tímidos pelo lado mais escuro.

Tinha o ombro esquerdo mais descido,

o que a fazia temer por males das costas,

com o passar da idade.


sábado, 3 de janeiro de 2009

pintura de Plamen Temelkov


beber um gole de espumante.
o borbulhar da minha bebida acompanha a batida acelerada do coração.
desejar, como na carícia de um amante,
o pleno
sentir-me mais feita
e ir.