sexta-feira, 30 de novembro de 2007

poema

Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas do próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem
Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos
e na boca



Mário Cesariny




segunda-feira, 26 de novembro de 2007

perfis e frontes


fotografia de Henrique Mateus


rec Lusos




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terça-feira, 20 de novembro de 2007

old friends

fotografia de Ricardo Costa tatoo devil



só entre velhos amigos... é que paramos para pensar no que acabaram de nos dizer, quase ao ouvido.


quarta-feira, 14 de novembro de 2007

woman

pintura de Outlaw Jesus




As mãos já enrugam nas dobradiças dos dedos, frias.
Deixei o lápis preto e o rímel para uma outra noite.
Despi a roupa do dia, transpirada pela espera maldita,
Servi-me do jantar feito com requinte e cuidado
Saboreei um quadradinho de chocolate negro
Acariciei o gato de textura escura
Que me persegue, insaciado, por um gesto de afago.


Desconheço o espaço anterior a este,
Não me lembro.
O meu corpo é a expressão não pensada do que um dia foi.




domingo, 11 de novembro de 2007

passei por aqui, hoje

fotografia de Jocope
as cores do Porto


é sempre bom ir ao Porto
porque é necessário estar com os amigos.
é uma questão de manutenção física e mental
e também de renovação de ciclos. trata-se da sobrevivência para uma continuidade qualquer.
é nestes momentos, por mais breves que sejam, que me apercebo de um olhar-me de fora
para depois ser mais capaz de perceber o que por aqui se vai passando.
cumplicidade com amizade, às vezes em silêncio mas na presença de.




quinta-feira, 8 de novembro de 2007

terça-feira, 6 de novembro de 2007

miau!

Edward Gorey

os gatos no cimo de cumes brancos
escondem estórias de mistério.
e quando levantam o véu
criaturas demoníacas surgem por entre a neblina de pó
das arcas da avó...



domingo, 4 de novembro de 2007

fico

pintura de Outlaw Jesus

No embalo do meu próprio ombro
No cheiro intrínseco a mim
Nos dias emagrecidos pela noite longa
Na lua que de súbito se esconde
Na ausência
Na saudade
Na incompletude do meu espaço
Na silhueta de perfis esguios.

No embalo do meu próprio ombro
Me escondo e fico
Nos ângulos escuros das portas semi-abertas.




sexta-feira, 2 de novembro de 2007

os animais

ontem, dia 1 de Novembro, foi o dia mundial do respeito pelos animais.

o debate sobre a relação entre os animais e a população humana não é recente. no entanto, pensar o conceito de dignidade no seio deste debate assume contornos bastante contemporâneos, implicando uma reconstrução necessária da ideia de "direitos dos animais". ao nível do senso comum, os animais têm um conjunto de direitos que a priori de uma reflexão mais profunda resultam numa clara evidência. contudo, os animais não vivem sozinhos, imunes às práticas culturais, económicas, políticas de quem também habita o mundo. se pensarmos na interacção mais antiga e mais recente entre os humanos e os animais num mesmo meio que é o planeta Terra, essa evidência (que os animais têm direito a ter direitos) rapidamente cai por terra. será que só os humanos têm direito a ter direitos? (a questão da universalidade dos direitos humanos é outra temática para outro post)

o que eu acho que nós, humanos, podemos fazer pelo respeito pelos animais passa, em primeiro lugar, pela consciência de que (e buscando a definição hindu de direitos humanos, dharma) a natureza e os homens partilham um mesmo meio, o cosmos, e é para com este meio que os indivíduos se situam (num todo). ou seja, longe da concepção ocidental de direitos humanos que garante apenas direitos a quem tem deveres, (e daí a natureza - incluindo os animais- não ter direitos porque não lhes são impostos deveres) há que pensar que os humanos se situam num todo com o qual estabelecem relações de harmonia e bem estar e não só entre indivíduos ou só para com a sua sociedade.
É mais que certo que diferentes culturas têm diferentes visões do mundo e diferentes modos de se relacionarem com ele, e logo, com os animais. Mas o que é transversal a todas as culturas é a relação de proximidade que desenvolvem com os animais. E é aí que pode surgir o ponto de partida para a tentativa de reconstruir a questão dos direitos dos animais, estudando caso a caso, idealmente, cultura a cultura.

o documentário "Earthlings", realizado pela organização Nation Earth, pretende alertar para a ideia de que não é possível vermos os animais à medida dos homens. caso contrário, podemos estar a assistir (e a compactuar com) a outro tipo de holocausto, tão válido como aqueles que a história já registou.

Site oficial:
http://www.isawearthlings.com/

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

para saborear

não é para antecipar a época festiva natalícia.
é só um exercício de deleite gastronómico.
hoje, e pela primeira de mais vezes futuras, trago-vos uma receita de um doce que tive a oportunidade de saborear em Agosto num cafezinho alentejano.
facto que prova que o Natal é sempre quando um alentejano quiser.



AZEVIAS

como fazer:

  • 250 g grão cozido
  • 150 g açúcar
  • 2 dl água
  • 2 gema(s) de ovo
  • canela em pó
  • raspa de laranja
  • óleo para fritar
  • banha q.b
  • 175gr farinha
  • 1 colher de sopa de azeite
  • sal q.b.


Prepara uma massa tenra.

PREPARAÇÃO:
Deita-se a farinha num alguidar e junta-se as gorduras, derretidas ao lume. Com a mão vai-se incorporando. Junta-se a pouco e pouco água morna temperada com sal e amassa-se até despegar do alguidar.Põe-se em cima de pedra mármore e sova-se bem. A massa estará pronta quando ao fazer-lhe um golpe com uma faca afiada, apresentar buracos como o pão. Espera-se 15 minutos antes de tender.

Tira a pele ao grão cozido e esmaga. Com o açúcar e a água prepara uma calda de açúcar fazendo ponto pérola. Junta o puré do grão, raspa de laranja e deixa ferver suavemente. Fora do calor, junta as gemas e canela.

Estende a massa tenra, dispõe o recheio, já frio, em montinhos espaçados, dobra e corta em meias luas.

Frita em óleo e escorre sobre papel absorvente.

Bom apetite!

:)