quarta-feira, 25 de julho de 2007

rascunho



se pudesse decifrar as entrelinhas do que sinto e penso,
então viajaria em constante viagem
e olharia por debaixo das pedras da calçada portuguesa
a sombra de pó gasta pela miserável vidinha daqueles que a pisam,
todos os dias
à mesma horinha

no mesmo destino.

nesta cruel confusão
a meio de arranhadelas de gato preto carente
desdobro os meus olhos em mais dois
na urgência de focar a imagem desfocada do que escrevo
e
sinto
e
penso.



1 comentário:

Pedro Sá Valentim disse...

mas é precisamente por nunca chegares a decifrar as entrelinhas do que sentes e pensas, nem a conseguires focar a tal imagem daquilo que escreves sobre o que sentes e pensas que hás-de continuar a ter que escrever sobre isso que sentes e pensas, já não para decifrares ou focares o que quer que seja mas só para te dares conta da fúria deste vento animal que por debaixo de cada miserável vidinha dá tamanho e bolina aos sonhos enormes, daqueles pelos quais quase vale a pena que se engula uma vida.