domingo, 25 de janeiro de 2009

I. um


Suponho que a sua vida não fosse…

Suposições.

Deixar de fumar para ver se o pensamento se emancipava,

sufocada, muda,

de voz plana, cansada. A pensar.

Merdices.

Tudo o resto ia na mesma:

chovia sempre que lhe apetecia espairecer,

o vento soprava quando ia pôr o lixo,

e o sol abria nas vezes em que não saía.

Já podia sentir as horas

separadas dos segundos.

Maravilhoso.

Mas uma coisa é certa: o trabalho não faz falta nenhuma.

A sua presença é útil só para fazer adiar problemas,

é o melhor álibi para qualquer coisa.

É a melhor maneira de evitar

sentar o rabo na cadeira e sentir os tendões a doer.

Entre a mascarilha e a máscara,

atrevida e escondida,

via os golpes de esperteza saloia de alguns

e a fuga dos mais tímidos pelo lado mais escuro.

Tinha o ombro esquerdo mais descido,

o que a fazia temer por males das costas,

com o passar da idade.


2 comentários:

Nostalgia disse...

Fantástico Post!

Mordaz...mordaz

vvv disse...

Mas uma coisa é certa: o trabalho não faz falta nenhuma.

Essa maldição impõe-se-nos, o que realmente é diferente de fazer falta.

O trabalho causa a falta, primeiramente, de uma actividade outra cujo espaço ele ocupa contaminando o que sobra dele, em seguida, de tudo o que advém da dor de costas e que piora com a idade.

Tenho horror de todas as profissões. Doutores, caixeiras do Pingo Doce (ah, sabe tão bem pagar tão pouco!), todos parolos, uns ignaros! A mão que empunha a pena vale a que entrega o saco de plático. Que século de mãos (freneticamente a teclar o deve e haver da usura dos dias)! Jamais me servirei das mãos! Depois a domesticidade leva demasiado longe... (como vim parar aqui!?)