Suponho que a sua vida não fosse…
Suposições.
Deixar de fumar para ver se o pensamento se emancipava,
sufocada, muda,
de voz plana, cansada. A pensar.
Merdices.
Tudo o resto ia na mesma:
chovia sempre que lhe apetecia espairecer,
o vento soprava quando ia pôr o lixo,
e o sol abria nas vezes em que não saía.
Já podia sentir as horas
separadas dos segundos.
Maravilhoso.
Mas uma coisa é certa: o trabalho não faz falta nenhuma.
A sua presença é útil só para fazer adiar problemas,
é o melhor álibi para qualquer coisa.
É a melhor maneira de evitar
sentar o rabo na cadeira e sentir os tendões a doer.
Entre a mascarilha e a máscara,
atrevida e escondida,
via os golpes de esperteza saloia de alguns
e a fuga dos mais tímidos pelo lado mais escuro.
Tinha o ombro esquerdo mais descido,
o que a fazia temer por males das costas,
com o passar da idade.
2 comentários:
Fantástico Post!
Mordaz...mordaz
Mas uma coisa é certa: o trabalho não faz falta nenhuma.
Essa maldição impõe-se-nos, o que realmente é diferente de fazer falta.
O trabalho causa a falta, primeiramente, de uma actividade outra cujo espaço ele ocupa contaminando o que sobra dele, em seguida, de tudo o que advém da dor de costas e que piora com a idade.
Tenho horror de todas as profissões. Doutores, caixeiras do Pingo Doce (ah, sabe tão bem pagar tão pouco!), todos parolos, uns ignaros! A mão que empunha a pena vale a que entrega o saco de plático. Que século de mãos (freneticamente a teclar o deve e haver da usura dos dias)! Jamais me servirei das mãos! Depois a domesticidade leva demasiado longe... (como vim parar aqui!?)
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