sexta-feira, 13 de julho de 2007

dava pelo nome muito estrangeiro de Amor



Dava pelo nome muito estrangeiro de Amor,
era preciso chamá-lo sem voz


difundia uma colorida multiplicação de mãos, e aparecia depois todo nu escutando-se a si mesmo, e fazia de estátua durante um parque inteiro, de repente voltava-se e acontecera um crime,

os jornais diziam,

ele vinha em estado completo de fotografia embriagada,

descobria-se sangue, a vítima caminhava com uma pêra na mão,

a boca estava impressa na doçura intransponível da pêra, e depois já se não sabia o que fazer, ele era belo muito, daquela espécie de beleza repentina e urgente,

inspirava a mais terrível acção do louvor, mas vinha comer às nossas mãos, e bastava que tivéssemos muito silêncio para isso,

e então os dias cruzavam-se uns pelos outros e no meio habitava uma montanha intensa, e mais tarde às noites trocavam-se

e no meio o que existia agora era uma plantação de espelhos,

o Amor aparecia e desaparecia em todos eles,

e tínhamos de ficar imóveis e sem compreender, porque ele era uma criança assassina e andava pela terra com as suas camisas brancas abertas, as suas camisas negras e vermelhas todas desabotoadas.




os animais carnívoros
Herberto Helder


pesquisa da amiga Joana



imagem: luscious red,
Ruth Palmer 2

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